Este blog exibe um conteúdo 100% católico e é administrado pelo pe. Saverio Licari. Através da arte e da iconografia oriental deseja-se divulgar a Palavra Eterna de Deus pelos novos areópagos do homem contemporâneo. Com efeito, a encarnação de Cristo é o fundamento iniludível da representação de Deus em forma humana.

GÊNESE E FORMAÇÃO DA IMAGEM CRISTÃ (3)


A imagem era uma modalidade de expressão tipicamente humana, uma forma de comunicação simbólica que, antes da escrita e da linguagem, diferenciava o ser humano dos outros seres vivos. Nesse sentido, talvez, o homem deveria ser definido mais exatamente como animal symbolicum, em vez de animal rationale. Essa definição, segundo Ernst Cassirer, um dos filósofos responsáveis pela recuperação da relevância filosófica da noção de símbolo do século XX, responde melhor a uma visão mais abrangente do fenômeno humano por abarcar o mito, a religião, a arte, a linguagem, a história e a ciência.[1]
Toda a manifestação simbólica e/ou cultural, enquanto construção tipicamente humana supõe uma força espiritual peculiar que a faça aparecer. Tal força, se pensamos dentro de uma prioridade ontológica e mesmo histórico-evolutiva, é a imaginação”.[2] A imaginação humana revela a experiência religiosa primordial através de imagens e símbolos ancestrais, rudimentares e antropomórficas. As imagens representavam, como num sonho, o universo inconsciente e transcendental do ser humano e o punham em contato com o mundo desconhecido.     
A formação do universo imagético religioso cristão está ligada, também, à visão religiosa do Egito. Os egípcios colocavam no rosto do defunto, depois do processo de mumificação, uma máscara mortuária que reproduzia o semblante do defunto. Esta técnica foi se aperfeiçoando, ao ponto, que, já antes do cristianismo, existiam verdadeiros ateliês de retratos funerários. O retrato do defunto, colocado em cima do rosto mumificado, tinha a função de mediar o mundo dos mortos e o mundo dos vivos. A imaginação, concretizada numa imagem ou num símbolo, facilitava este trânsito. No século XX Padre Pavel Florenskij, teólogo, matemático e teórico da arte, define o ícone como “A janela sobre o mistério” e os Padres da Igreja oriental, defensores das imagens (ícones), o definem como “Janela aberta para o invisível”. Os retratos de Fayoum (região do Cairo atual) são um testemunho vivo desta arte primitiva. Essas pinturas funerárias egípcias que inspiraram a iconografia cristã das origens, constituem um corpus orgânico de pinturas antigas (mais de 750 retratos) que chegaram até nós, datáveis entre o I e o IV século d.C. As primeiras imagens de Cristo foram feitas em encáustica (pintura confeccionada com cera de abelha) sobre madeira, da mesma forma que os retratos funerários egípcios. A arte sagrada dos ícones decorre desse histórico primordial.
       A imagem cristã é um evento extraordinário e específico profundamente radicado nas culturas em que a Igreja das origens se estabeleceu e viveu e, ao mesmo tempo, é um fato totalmente novo, imprevisto e revolucionário no que diz respeito às culturas estabelecidas e à própria fé dos primeiros seguidores de Jesus de Nazareth. Pe. Saverio Licari 


[1]Cf. CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem. Introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo:   Martins Fontes, 1994. In: BARRETO, M, A. Imaginação simbólica Reflexões introdutórias. Coleção FAJE. São Paulo: Loyola, 2008. p. 13.  
[2]BARRETO, M, A. Imaginação simbólica. Reflexões introdutórias, Coleção FAJE. São Paulo: Loyola, 2008, p. 14. 

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