Este blog exibe um conteúdo 100% católico e é administrado pelo pe. Saverio Licari. Através da arte e da iconografia oriental deseja-se divulgar a Palavra Eterna de Deus pelos novos areópagos do homem contemporâneo. Com efeito, a encarnação de Cristo é o fundamento iniludível da representação de Deus em forma humana.

GÊNESE E FORMAÇÃO DA IMAGEM CRISTÃ (2)


Toda a arte cristã deve ser lida e interpretada a partir do símbolo: todo o objeto representado tem um significado abstrato. A arte paleocristã não narra, não expõe histórias com um sentido lógico e cronológico, expõe ideias que devem ser compreendidas a partir da contemplação visual de uma imagem: quando se representa a figura de Cristo, de Maria ou dos santos, não se quer reproduzir o contorno real, humano, mas se quer expressar o significado que eles assumem para os fiéis. Nesses casos, não se trata de forma alguma de pinturas históricas, de lembranças fotográficas de acontecimentos passados, mas de tornar apreensível a realidade de Deus no mundo,  uma teofania de Deus em cores e formas.[1]
Por isso, o ícone é uma imagem sui generis que precisa ser compreendida a partir da espiritualidade e da realidade onde nasce. A noção de eikón abrange múltiplos aspectos do conhecimento humano, é preciso adentrar-se em suas raízes, na etimologia da sua palavra e na própria origem do homem para entendermos o seu significado.   
Ainda hoje, nós ignoramos o início da arte, da pintura e da própria linguagem. No passado, a atitude em relação à pintura e às estátuas era em geral semelhante: não as consideravam meras obras de arte, mas objetos que tinham uma função definida. Seria insensato pensar que o homem da caverna construísse objetos, utensílios e pintasse imagens ignorando a finalidade para a qual tinham sido confeccionadas. Os povos primitivos se abrigavam nas cavernas para se proteger do sol, do vento e da chuva e, também, dos espíritos que geravam, segundo eles, tais eventos. As imagens eram feitas para protegê-los de outros espíritos ocultos e misteriosos que, para eles, eram tão reais quanto os fenômenos da natureza. A pintura e a estátua serviam para apropriar-se, de uma certa forma, da entidade desconhecida. Uma mediação, poderíamos dizer, entre o mundo que eles experimentavam e o oculto que fugia dos seus sentidos. Em outras palavras, o homem primitivo faz das imagens pintadas nas paredes das cavernas um meio para estabelecer um contato com o mundo divino e misterioso. A pintura rupestre tinha a função de tornar real e palpável o sujeito representado. (Se pense as cavernas de Lascaux na França ou de Altamira na Espanha, c. 15.000 – 10.000 a.C.). pe. Saverio Licari

Cf. BERGER, Rupert. Dicionário de liturgia pastoral. São Paulo: Loyola, 2010. p. 189.

GÊNESE E FORMAÇÃO DA IMAGEM CRISTÃ (1)

A palavra ícone (do grego eikón) significa imagem, retrato, símbolo, representação, visão, metáfora. Essa nomenclatura será importante no desenvolvimento dessas páginas porque na definição e na origem desses termos encontra-se a fundamentação teológica, estética e histórica da imagem cristã. O tema da imagem na teologia e na vida da Igreja é um tema apaixonante, não obstante seja marcado por conflitos e disputas teológicas desde os primórdios. Até hoje, esse tema aparece em várias ocasiões e em vários lugares e parece estar longe de uma definição conclusiva e pacífica pelas diversas denominações cristãs. Em uma sociedade como a nossa em que a representação visual se impõe em todos os âmbitos da vida, o homem pós-moderno se encontra saturado de imagens cada vez mais violentas e abusivas, o seu olhar está contaminado e abstruso, a sua alma perdida e insegura e não encontra mais um porto seguro e estável. Essa constatação vale para a arte profana e, mais ainda, para a arte religiosa. O homem sente a necessidade de reencontrar a esperança na vida e no futuro. Essa insatisfação da vida e esse desejo de salvação se manifestam na imagética moderna, cada vez mais rápida, descartável e sem conteúdo. Por isso, a arte sagrada dos ícones toma cada vez mais o seu lugar de destaque no Ocidente civilizado e pós-moderno. A imagem religiosa, sobretudo no Ocidente, limitou-se, a partir da Renascença europeia, à descrição dos fatos da Divina Revelação e pôs em segundo plano o mistério que subtende à manifestação de Deus no mundo. É desse mistério que o homem moderno precisa e é esse mistério que o ícone sagrado reflete e expressa. O ícone é o reflexo do mistério de Deus, presença da encarnação do Verbo eterno e expressão da fé da Igreja. Belíssimo e denso de significado o pensamento de Padre Egon Sendler, jesuíta e especialista em arte bizantina: “A arte deve renunciar, então, a si mesma, deve passar através da própria morte, submergir-se nas águas do batismo para sair das fontes batismais, ao alvorecer do quarto século, em uma forma nunca vista antes: o ícone.”. pe. Saverio Licari
ÍCONES – UMA JANELA PARA A ETERNIDADE Pavel Evdokimov, um dos grandes teólogos russos refugiados na França, definiu o ícone como “uma janela para eternidade”. Não se olha a janela, mas, pela janela se olha o panorama externo. No caso do ícone, pela fé o ícone nos abre os olhos e o coração para o eterno ali figurado. O ícone é sempre dogmático: suas linhas e cores expressam um conteúdo da fé cristã. O iconógrafo não é livre para pintar os ícones, pois deve obedecer à linguagem da fé explicitada pela Igreja. Como exemplo: as possibilidades de pintar um ícone da Natividade do Senhor são quase infinitas, porém, todas elas necessariamente contém os mesmos traços e cenários. A Verdade é uma, sua expressão é múltipla. O ícone é palavra visível, pregação da verdade. Os judeus tinham uma mentalidade acústica (ouvi dizer, disseram nossos pais, eu vos digo...). Já os gregos são de mentalidade visiva (contemplar, meditar), donde a importância teológica e espiritual do ícone: eu vejo uma imagem, através dela ingresso no eterno, no divino. A Palavra se fez carne (Jo 1,14) é o fundamento da arte sacra. A Apóstolo João inicia sua Carta declarando que escreve “o que ouvimos, o que vimos” (1Jo1,1). Com a encarnação, o acústico judeu (ouvimos) se une ao visivo grego (o que vimos). Essa unidade se dá no Cristo homem e Deus: falando, se manifesta como imagem do Pai e, ao mesmo tempo, sua Palavra. Após a encarnação, toda a criação é apta para expressar o mistério, pois nela está encarnado o Filho de Deus. Toda a matéria utilizada na confecção de um ícone é matéria santa por natureza. O artista, dando-lhe forma, revela um ângulo do mistério da fé. Ele não inventa mistérios, e sim, desenha o conteúdo da fé da Igreja. O Iconógrafo-sacerdote da beleza. O iconógrafo não é um profissional que ganha a vida com ícones. Se isso acontecer, estamos apenas diante de uma obra humana, e não frente a uma obra divina. O iconógrafo pode ser comparado ao sacerdote que celebra a liturgia: “Ensina com as palavras, escreve com as letras, pinta com as cores, em conformidade com a tradição; a pintura é verdadeira como aquilo que está escrito nos livros: ali está presente a graça de Deus, porque o que é representado é santo” (Simeão o Novo Teólogo, Diálogo contra as heresias 23). “O sacerdote nos apresenta o Corpo do Senhor com os ofícios litúrgicos, com a força das palavras. O pintor o faz por meio da imagem” (Podlinnik – manual russo para os pintores de ícones). Do mesmo modo que o sacerdote se recolhe em oração antes de celebrar os mistérios, o iconógrafo autorizado pela Igreja vive um mês de jejum a pão, água e sal, buscando a purificação interior com a oração e a contemplação do mistério que irá desenhar. A primeira pincelada é de cor branca, simbolizando a Luz que o iluminará e dará resplendor ao ícone. Tradicionalmente, o primeiro ícone é o da Transfiguração do Senhor: assim como o Cristo apareceu em forma luminosa no Monte Tabor, do mesmo modo o artista transfigurará a criatura para que revele a Verdade a ser contemplada. Pe. José Artulino Besen
O ANO DA FÉ
Renovar a nossa fé significa levar a sério a Palavra do Senhor e alimentar-se do Pão da Vida que é o próprio Cristo feito homem pela nossa salvação. Significa voltar para a casa onde Deus nos acolhe de braços abertos. Católicos, voltem para a casa (Bento XVI).